
``A caixa de pó compacto escorrega por entre meus dedos e vai de encontro ao chão tão veloz que meus dedos não chegam a toca-la novamente antes que aterrisse de cabeça pra baixo ( lógico) esparramando seu conteúdo em todo o quarto,
não que este estivesse em ordem,
mas era totalmente dispensável um ingrediente a mais na mistura de coisas.
Respiro fundo,
deixo pra depois ,
uso o que ainda resta na esponja,
espalho pelo rosto e vou lembrando dos palhaços de circo.
No fundo as mulheres devem ter e inveja deles já que só eles podem usar uma camada tão grossa ao ponto de mudar a cor do rosto.
Começo a sequência de sempre...
Lápis nos olhos,
sombra,
muita sombra ,
tons sobre tom,
clareando escurecendo colorindo.
Na hora do rimel vem novamente a tentação de usar cílios postiços (não da tempo ), o batom,
só um pouquinho e claro,
já que esta e só a primeira camada de muitos que irei retocar antes mesmo de sair.
Começo a pintar a boca e me vem de novo a imagem do palhaço,
desato a rir,
rir da minha própria mania,
mania das comparacoes estranhas fora de hora.
Jogo a toalha pro lado,
no espelho a lingerie me lembra o trabalho que deu encontrar pecas que não aparecessem através do vestido ,
fossem confortáveis e ainda assim fizessem o favor de me deixar sexy.
Outra serie de risos malvados para o espelho.
Viro para o lado e olho minha cama,
parece uma banca de promoção no dia em que a mercadoria acabou de chegar,
uma pilha de roupas forma um everest miniatura no centro.
Penso no tempo que vou gastar arrumando tudo isto,
meia hora de indecisão sobre o que vestir causou quase uma revolução.
Estico o braço e alcanço o pretinho básico no cume da montanha,
percebo o quanto e ridículo e sem nexo tanto trabalho para optar pelo óbvio.
No mesmo instante mudo de ideia e vejo o quanto era importante experimentar todos os outros só para descobrir que o meu decote favorito ainda era o melhor.
Hora do malabarismo.
Quem mandou se maquiar antes de se vestir.
Agora o vestido tem que passar pelos meus cabelos sem desarruma-los e pelo meu rosto sem tirar sequer um grão de pó do lugar.
Ainda bem que a pratica trás a perfeição...
em um segundo o tecido desliza pelo meu corpo para no segundo seguinte ser alisado por minhas mãos em direção ao seu cumprimento.
Um quase ultimo problema,
tanta maquiagem,
tanto perfume,
e ainda não decidi se vou com pernas nuas ou de meia,
imagino uma nova troca de sapatos causada pela escolha da meia,
esqueço a meia,
afinal depois que esquenta e sempre quente na noite.
A insinuação me faz rir novamente,
alias parece que hoje to rindo a toa.
Mais batom ,
mais perfume,
mais telefone,
mais espelho,
muito mais espelho e e claro o cabelo solto,
o ultimo toque...
Que nada o ultimo toque e o da campanhinha...
Abro a porta ...
Encaro a noite..
Sinto o vento me envolvendo no meu próprio perfume..
A porta da casa se fecha...
O portão range atrás de meus passos...
A porta do carro bate...
Mergulho na escuridão salpicada de luz artificial !``
CleaRF.
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