segunda-feira, 25 de abril de 2011

A BELA E O BURRO...


Ontem depois que você foi embora confesso que fiquei triste como sempre.

Mas, pela primeira vez, triste por você.
Fico me perguntando que outra mulher ouviria os maiores absurdos como você, um homem de 32 anos, planejar ir a uma matinê brega com gente sem assunto no próximo domingo e, ainda assim, não deixar de olhar pra você e ver um homem maravilhoso.
Que outra mulher te veria além da sua casca?
Você não entende que eu baixei a música do "Midnight Cowboy" e umas boas do Talking Heads, Vinícius de Morais e do Smiths porque achei divertido te fazer uma massa ouvindo algumas músicas que dão vontade de viver.
Uma massa que você não vai comer porque está perdendo o paladar para o que a vida tem de verdadeiro e bom.
É tanta comida estragada, plastificada e sem sal, que você está perdendo o paladar para mulheres como eu.
E você não sabe como vale a pena gostar de alguém e acordar na casa dessa pessoa e tomar suco de manga lendo notícias malucas no jornal como o cara que acha que é vampiro.
Tudo sem vírgula mesmo e, nem por isso, desequilibrado ou antes da hora.
Você não sabe como isso é infinitamente melhor do que acordar com essa ressaca de coisas erradas e vazias.
Ou sozinho e desesperado pra que algum amigo reafirme que o seu dia valerá a pena.
Ou com alguma garotinha boba que vai namorar sua casca.
A casca que você também odeia e usa justamente para testar as pessoas "quem gostar de mim não serve pra mim".
E eu tenho vontade de segurar seu rosto e ordenar que você seja esperto e jamais me perca e seja feliz.
E entenda que temos tudo o que duas pessoas precisam para ser feliz.
A gente dá muitas risadas juntos.
A gente admira o outro desde o dedinho do pé até onde cada um chegou sozinho.
A gente acha que o mundo está maluco e sonha com a praia do Espelho e com sonos jamais despertados antes do meio-dia.
A gente tem certeza de que nenhum perfume do mundo é melhor do que a nuca do outro no final do dia.
A gente se reconheceu de longa data quando se viu pela primeira vez na vida.
E você me olha com essa carinha banal de "me espera só mais um pouquinho".
Querendo me congelar enquanto você confere pela centésima vez se não tem mesmo nenhuma mulher melhor do que eu.
E sempre volta.
Volta porque pode até ter uma coxa mais dura.
Pode até ter uma conta bancária mais recheada. Pode até ter alguma descolada que te deixe instigado.
Mas não tem nenhuma melhor do que eu. Não tem.
Porque, quando você está com medo da vida, é na minha mania de rir de tudo que você encontra forças. E, quando você está rindo de tudo, é na minha neurose que encontra um pouco de chão. E, quando precisa se sentir especial e amado, é pra mim que você liga. E, quando está longe de casa gosta de ouvir minha voz pra se sentir perto de você. E, quando pensa em alguém em algum momento de solidão, seja para chorar ou para ter algum pensamento mais safado, é em mim que você pensa. Eu sei de tudo. E eu passei os últimos anos escrevendo sobre como você era especial e como eu te amava e isso e aquilo. Mas chega disso.
Caiu finalmente a minha ficha do quanto você é, tão e somente, um cara burro.
E do quanto você jamais vai encontrar uma mulher que nem eu nesses lugares deprê em que procura.
E do quanto a sua felicidade sem mim deve ser pouca pra você viver reafirmando o quanto é feliz sem mim e principalmente viver reafirmando isso pra mim.
Sabe o quê?
Eu vou para a cama todo dia com 5 livros e uma saudade imensa de você.
Ao invés de estar por aí caçando qualquer mala na rua pra te esquecer ou para me esquecer. Porque eu me banco sozinha e eu me banco com um coração.
E não me sinto fraca ou boba ou perdendo meu tempo por causa disso.
E eu malho todo dia igual a essas suas amiguinhas de quem você tanto gosta, mas tenho algo que certamente você não encontra nelas: assunto.
Bastante assunto.
Eu não faço desfile de moda todos os segundos do meu dia porque me acho bonita sem precisar de chapinha, salto alto e peito de pomba.
Eu tenho pena das mulheres que correm o tempo todo atrás de se tornarem a melhor fruta de uma feira.
Pra depois serem apalpadas e terem seus bagaços cuspidos.
Também sou convidada para essas festinhas com gente "wanna be" que você adora.
Mas eu já sou alguém e não preciso mais querer ser.
E eu, finalmente, deixei de ter pena de mim por estar sem você e passei a ter pena de você por estar sem mim.
Coitado.

Tati Bernardi

quarta-feira, 20 de abril de 2011

A espera...


Sabe mais,
quem não sabe nada.
A ignorância do conhecimento
traz a prote
ção destinada aos bêbados e as criancinhas.
E mais feliz quem não se indaga,
quem não tem perguntas não busca respostas,
quem esta incompleto esta em pedaços.
Encontra descanso quem não tem onde ir
não tem pressa de chegar,
não sabe onde e o topo,
nem lhe interessa.
Quere
r é guerrear
com o mundo com os outro com si próprio,
o combate não tem fim,
depois que começa não como terminar.
Depois que conquistar tudo
ainda haverá o que desejar,
novas lutas para iniciar.
Sorte tem os mansos
que estão parados
mas tem consciência do movimento do universo
levando adiante os radicais livres.
Desesperados são aqueles que tem necessidade de mais
mais um pouco de tudo, mesmo que tudo resulte em nada.
Inconformados são aqueles em busca do amor maior,
depois dele vem sempre outro maior ainda?
Feliz e aquele que não se importa se
é dia ou noite.
Aos questionadores como eu
resta a busca,
pelo que ?
Não importa quando encontrarmos a resposta
arranjaremos logo
outro obstáculo para ultrapassar
que faca valer a pena
a sensação de euforia que a espera nos traz.


CleaRF.

sábado, 16 de abril de 2011

Projecao = Perfeicao




Eu queria te dizer uma porção de coisas,
de uma porção de noites,
ou tardes,
ou manhãs,
não importa a cor,
é,
a cor,
o tempo é só uma questão de cor não é?
Pois isso não importa,
eu queria era te dizer dessas vezes em que eu te deixava e depois saía sozinha,
pensando numa porção de coisas que eu não ia te dizer,
porque existem coisas terríveis que precisam ser ditas,
não faça essa cara de espanto,
elas são realmente terríveis,
eu me perguntava se você era capaz de ouvir,
se você teria,
não sei,
disponibilidade suficiente para ouvir,
sim,
era preciso estar disponível para ouví-las,
disponível em relação a quê?
Não sei,
não me interrompa agora que estou quase conseguindo,
disponível só,
não é uma palavra bonita?
Sabe,
eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você,
eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia,
e,
se era assim,
até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo,
talvez nem fossem suas,
mas minhas,
e pensava que amar era só conseguir ver,
e desamar era não mais conseguir ver, entende?

Caio Fernando Abreu

``Como e que a gente faz quando consegue enxergar a pessoa de verdade e mesmo assim nao deixa de sentir o que sentia pela projecao ?``

quinta-feira, 14 de abril de 2011

A quadrilha do desencontro...


``João amava Teresa
que amava Raimundo
que amava Maria
que amava Joaquim
que amava Lili
que não amava ninguém. ``


Carlos Drummond de Andrade

``...E eu quero ser como Lili que nao sofre porque nao ama ninguem,

mas sou mesmo e idiota que nem o Joao que ama sozinho...``


CleaRF.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

8ª série...por 8 minutos.


O despertador tocou as seis e quinze como sempre.
Acordei,
acho que acordei.

Tomei café dormindo.
Acordei na porta da escola ,
( melhor assim,
em estado sorumbatico não se a lotação do transporte publico),

Quando cheguei aos portões
encontrei vários rostos conhecidos,
e fácil encontra-los,
todos os outros de branco,
nos de azul,
(tentamos tanto ser diferentes).
Mil vezes oi ,
antes se sentar,
antes de olhar pro papel,
antes de olhar pro lado e -los todos.

Uma pausa para meu pensamento,
quero grava-los na minha memoria,
assim se aprisiona o instante.
Falta pouco para acabar,
mas acabaram-se as brincadeiras
nesta época a gente tem mais vergonha de dizer adeus,
tem medo de chorar de se envergonhar.
A era matutina esta no fim,
logo seremos seres da noite,
nos prometemos estar la uns pelos outros,
assim ninguém fica .
A camera esta comigo,
ela sempre esta,

num intervalo,
muitos flashes são disparados,
pronto estamos imortalizados.
A cada dia e mais difícil dizer ate amanha,
quem sabe se vai haver amanha.
Mas sinto-os todos
tão parte de minha historia.
Guardo comigo a esperanca de revê-los,
que mais posso fazer ,
tenho a vida inteira pela frente,
tenho o mundo inteiro pra conquistar.
Tenho mesmo e que pegar o ónibus
e ir pra casa,
corro sob o sol do meio dia,
entro no ultimo minuto...
O despertador grita histérico ao meu lado
abro os olhos ,
que dia e hoje?
Hoje e muito, muito depois.
me foi permitido um pulinho,
para ver todos eles,
para me rever,
para reencontrar a sensação de
ter todo o tempo do mundo pra sempre!

CleaRF.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Eu + Tempo = Transformação...


Tudo que parece eterno
tende a evaporar.
Se dissolver no tempo.
Deixar de ser e se tornar
brisa suave em tarde de verao.
Talvez , quem sabe ,
lagrima em dia frio.
Transporte pra outra dimensao,
a bordo da musica inesquecivel.
Nos mesmos somos mera recordacao
do que fomos ontem.
Eu mesma ,
sou apenas sobreposicao de imagens.
Voce ve o todo ,
porque me olha de frente.
Mas todas as minhas dimensoes
estao aqui comigo.
Todas as vidas que ja vivi.
Tudo que acertei e errei.
Tudo que se desfez com o tempo.
Tudo que se transformou,
tudo que e , para logo deixar de ser novamente.
O tudo sou eu,
Ou tudo que o tempo fez de mim!

CleaRF.


domingo, 3 de abril de 2011

Substituirei o destino pela probabilidade...


Estou desorganizada porque perdi o que não precisava?
Nesta minha nova covardia
- a covardia é o que de mais novo já me aconteceu,
é a minha maior aventura,
essa minha covardia é um campo tão amplo que só a grande coragem me leva a aceitá-la ,
na minha nova covardia,
que é como acordar de manhã na casa de um estrangeiro,
não sei se terei coragem de simplesmente ir.
É difícil perder-se.
É tão difícil que provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar,
mesmo que achar-me seja de novo a mentira de que vivo.
Até agora achar-me era já ter uma ideia de pessoa e nela me engastar:
nessa pessoa organizada eu me encarnava,
e nem mesmo sentia o grande esforço de construção que era viver.
A idéia que eu fazia de pessoa vinha de minha terceira perna,
daquela que me plantava no chão.
Mas e agora?
estarei mais livre?
Não.
Sei que ainda não estou sentindo livremente,
que de novo penso porque tenho por objetivo achar
- e que por segurança chamarei de achar o momento em que encontrar um meio de saída.
Por que não tenho coragem de apenas achar um meio de entrada?
Oh, sei que entrei,
sim.
Mas assustei-me porque não sei para onde dá essa entrada.
E nunca antes eu me havia deixado levar,
a menos que soubesse para o quê.
Ontem, no entanto, perdi durante horas e horas a minha montagem humana.
Se tiver coragem,
eu me deixarei continuar perdida.
Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo quero sempre ter a garantia de pelo menos estar pensando que entendo,
não sei me entregar à desorientação.
Como é que se explica que o meu maior medo seja exatamente em relação:
a ser?
e no entanto não há outro caminho.
Como se explica que o meu maior medo seja exatamente o de ir vivendo o que for sendo?
como é que se explica que eu não tolere ver,
só porque a vida não é o que eu pensava e sim outra como se antes eu tivesse sabido o que era!
Por que é que ver é uma tal desorganização?
E uma desilusão.
Mas desilusão de quê?
se,
sem ao menos sentir,
eu mal devia estar tolerando minha organização apenas construída?
Talvez desilusão seja o medo de não pertencer mais a um sistema.
No entanto se deveria dizer assim:
ele está muito feliz porque finalmente foi desiludido.
O que eu era antes não me era bom.
Mas era desse não-bom que eu havia organizado o melhor:
a esperança.
De meu próprio mal eu havia criado um bem futuro.
O medo agora é que meu novo modo não faça sentido?
Mas por que não me deixo guiar pelo que for acontecendo?
Terei que correr o sagrado risco do acaso.
E substituirei o destino pela probabilidade.

Clarice Lispector

sábado, 2 de abril de 2011

Fazendo a propria sorte...


A sorte se faz com os pés, andar é o melhor dos amuletos. Parado há poucas chances. Poesia se faz rompendo o branco do papel. Chuva se tem cobrindo o azul do céu. Sentirás dor. Mas haverá dias em que o sol não virá. Só não se esqueças de acreditar na bonança. Depois do inverno, virão as flores. Primavera virá. E não se esqueças de andar. Andando, nunca será tarde demais.
Fred Sa Teles

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Abandono...


"Não quero mais ser feliz.
Nem triste.
Nem nada.
Eu quis muito mandar na vida.
Agora,
nem chego a ser mandada por ela.
Eu simplesmente me recuso a repassar a história,
seja ela qual for,
pela milésima vez.
Deixa a vida ser como é.
Desde que eu continue dormindo."

Tati Bernardi