quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Impulso...


''Precisava nunca lembrar-se dele,

para nunca esquecer-se de si.

Precisa,

mais do que qualquer outra coisa,

esquecer que seus sentidos tinham memória,

e acima disso,

tirar a memória deles.

Era sua visão,

e a forma como estava estagnada na lembrança dos olhos.

Era seu tato,

e como fingia que qualquer brisa era sua silhueta.

Era seu paladar,

e o modo como tendia desgustar da amargura.

Seu olfato,

caçando no vento o cheiro cítrico da nuca.

Sua audição,

repetindo a voz.

Precisava lembrar-se para colocar-se de pé ao amanhecer.

Precisava esquecer-se para não voltar ao chão.

Precisava de um chão, para não bater de cabeça no teto...''


Juliana Motter

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