terça-feira, 19 de outubro de 2010

Ausência...




''Minha ausência é justificável.
Não a ausência física, mas, a ausência do meu eu em palavras.
Frases, versos, textos, um livro.
Essa é a ausência mais intrigante.
Abandono poético que me consome – fome estável.
Ela me corrói aos poucos.
Palavras indispostas.
Amortecida e infértil é a minha inspiração.
Hoje não tenho contexto, não tenho caminho, não tenho destino, tão pouco capítulo.
Hoje estou o avesso do concreto, do pouco duvidoso.
Abençoadas noites foram aquelas em que mal pude deitar de tanto gozo poético.
De tanta inspiração correndo nas veias, de tanta insônia por amor as palavras.
Hoje o meu mais íntimo vocabulário definha junto às folhas, junto aos poemas que dediquei.
Fraqueza extrema e absoluta.
Congruência de maremotos internos.
Em que mundo se escondeu minha inquietude poética, minha intolerância questionável, meu amor que dissipa o vazio e desvenda o mistério escondido nas entrelinhas?
Por onde andam meus trocadilhos, minhas ironias, minhas junções, meu vocabulário chulo, minha gramática ultrapassada, meus argumentos infundados diante dos fatos consumados?
Onde?
Em que quarto adormecem os seres causadores daquela respiração ofegante e coração disparado?
Inspira-me, insignificância!
Por que a vida está com cor triste se ontem entornei o azul – paz cínico mais bonito que encontrei por entre as cores do meu céu de lágrimas?
Por que Drummond não me instiga com o seu "Boca de luar" e nem a Florbela Espanca acalma meus nervos?
Que leitura mais insana essa minha, por que tanto me desespero?
Pra que colocar vazios no papel branco e acrescentar vácuo naqueles que me lêem?
Que motivos insisto em guardar?
Perguntas também vagas que não me esquecem nem me tiram desse vazio poético.
Quanto mais questiono, mais me afasto de qualquer solução pra minha abstinência.
Hoje eu sou o reflexo mais límpido da minha alma.
Tudo o que eu disser guarde, por que hoje eu não minto.''

Pricila Rôde

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